Você deveria esquecer que
tropeçou, que machucou o dedão e aquilo fez doer. Quando te chamarem pra correr
pela rua até o próximo quarteirão, na esperança de encontrar o senhor vendendo
algodão doce, não perca tempo procurando seu sapato, muito menos amarrando o
cadarço que o manterá firme em seus pés. Permita-se ser puxado pela mão que te
espera no portão e não tenha medo de seguir descalço. Corra e ganhe velocidade a ponto de quase
poder voar. Se quiser voar, voe. Mas antes sinta como é bom poder tocar o chão
sem aquele medo antigo de calejar, de se cortar e sentir dor.
Perceba que sujar os pés em busca
de algo que faça seus olhos brilharem é tão gratificante quanto descobrir,
depois de dobrar em tantas esquinas, que o vendedor de algodão doce, por algum
motivo, estava esperando por você. Pelo sabor da conquista, aquele algodão será
o mais doce e derreterá na sua boca, te arrancando um arrepio gostoso que
percorrerá todo seu corpo. Experimente um de cada cor, mesmo que o seu
preferido seja o azul-cor-de-céu-aos-domingos.
Você irá se sentir vivo e
agradecerá aquela mão que te puxou rua afora, te conduzindo para esse momento
de pura satisfação. Agradecerá por ter deixado os sapatos em casa e o medo
embaixo dele. Ao voltar, com as mãos grudadas pelo açúcar colorido que restou
nos dedos, saberá que o coração já não é mais o mesmo. As batidas
descompassadas, pulsantes pelo sangue novo que passeia pelas artérias, irão
mostrar o ritmo com o qual deverá conduzir cada sorriso e cada gesto a partir
de então.
É, meu caro, jogue os sapatos
fora! Esqueça os medos, os planos, os riscos e as velhas promessas. Jogue fora
os sapatos e, se a vaidade assim não permitir, escolha os chinelos, mas não se
esqueça de esquecê-los por aí na primeira oportunidade que encontrar para sentir-se
livre e feliz.
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