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terça-feira, 25 de junho de 2013

Coração Balão

Você me deixou torto. Assim mesmo, virado pelo avesso, sem ter ideia alguma de como tudo estava de cabeça para baixo mais uma vez. Você fez carnaval no meu coração quando nem era fevereiro. Coisa chata essa que acontece vez por outra, que chega sem pedir licença, e fica, faz morada e te entorta. Você me deixou torto em 140, 200, 525 caracteres diários e três palavras no meio da noite. Eu me deixei entortar, jurando manter os pés no chão, quando na verdade minha sombra já nem se via sobre a terra, tão alto eu já estava.

Eu que tenho medo de altura, sempre me permitir voar. Também foi assim quando me prometeram o céu. Ou daquela vez quando a ideia do “para sempre” não teria fim e as tardes teriam cheiro de brigadeiro de panela. Você não prometeu nada e muito menos seguiu comigo nesse voo sem direção. Segui sozinho com meu coração em batucada, como um folião inconsequente que mesmo aos vinte e dois ainda tropeça nas serpentinas que ele mesmo atira pela rua.

Acho que eu sempre vivi assim, me deixando entortar, fazendo do meu coração um balão inflado dentro do peito, que cresce até estourar. Então de tempo em tempo eu me endireito, desentorto, ergo a cabeça e finjo ignorar essa minha mania de perder o eixo por qualquer boca que me sorri e me morde os lábios, até que, mais uma vez, tudo volta: o carnaval, o balão inflando, o amor torto e unilateral.

Parece que depois de você, desentortar ficou mais fácil. Mas só parece. Desentortar ainda dói e faz nascer aquele sentimento de que a vida nunca vai passar de encontros passageiros e beijos furtivos numa festa qualquer. Ignorar a falta, controlar a ansiedade e tentar ser auto-suficiente são metas diárias que preenchem a agenda por tempo indeterminado até que alguém tire o sentido das coisas novamente.

E se refaço esse estranho ciclo de entorta, desentorta, infla e estoura, eu já nem sei de quem é a culpa: se do coração que nunca aprende a segurar as pontas, ou sua, que teve o dom de me virar de ponta cabeça sem nem perceber.

Esse texto é um projeto especial do Esquinas com músicas de O Grande Encontro
e foi inspirado na música "Coração Bobo"