Você me deixou torto.
Assim mesmo, virado pelo avesso, sem ter ideia alguma de como tudo estava de
cabeça para baixo mais uma vez. Você fez carnaval no meu coração quando nem era
fevereiro. Coisa chata essa que acontece vez por outra, que chega sem pedir
licença, e fica, faz morada e te entorta. Você me deixou torto em 140, 200, 525
caracteres diários e três palavras no meio da noite. Eu me deixei entortar,
jurando manter os pés no chão, quando na verdade minha sombra já nem se via
sobre a terra, tão alto eu já estava.
Eu que tenho medo de
altura, sempre me permitir voar. Também foi assim quando me prometeram o céu.
Ou daquela vez quando a ideia do “para sempre” não teria fim e as tardes teriam
cheiro de brigadeiro de panela. Você não prometeu nada e muito menos seguiu
comigo nesse voo sem direção. Segui sozinho com meu coração em batucada, como
um folião inconsequente que mesmo aos vinte e dois ainda tropeça nas
serpentinas que ele mesmo atira pela rua.
Acho que eu sempre vivi
assim, me deixando entortar, fazendo do meu coração um balão inflado dentro do
peito, que cresce até estourar. Então de tempo em tempo eu me endireito,
desentorto, ergo a cabeça e finjo ignorar essa minha mania de perder o eixo por
qualquer boca que me sorri e me morde os lábios, até que, mais uma vez, tudo
volta: o carnaval, o balão inflando, o amor torto e unilateral.
Parece que depois de
você, desentortar ficou mais fácil. Mas só parece. Desentortar ainda dói e faz
nascer aquele sentimento de que a vida nunca vai passar de encontros
passageiros e beijos furtivos numa festa qualquer. Ignorar a falta, controlar a
ansiedade e tentar ser auto-suficiente são metas diárias que preenchem a agenda
por tempo indeterminado até que alguém tire o sentido das coisas novamente.
E se refaço esse
estranho ciclo de entorta, desentorta, infla e estoura, eu já nem sei de quem é
a culpa: se do coração que nunca aprende a segurar as pontas, ou sua, que teve
o dom de me virar de ponta cabeça sem nem perceber.
Esse texto é um projeto
especial do Esquinas com músicas de O Grande Encontro
e foi inspirado na
música "Coração Bobo"
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