Quis parar de ter em
você a razão dos meus antigos dias de sol. A razão das minhas gargalhadas mais
gostosas, das palavras doces nos meus poemas, do meu novo visual. Quis não ter
apenas as suas velhas cartas para ler, quando a necessidade de ter certeza que
um dia fui amado batia mais forte. Quis não ter guardado o frasco vazio do seu
perfume adocicado, o anel que selava nosso compromisso e ainda o isqueiro
cor-de-rosa que você esqueceu sobre a mesa naquela tarde de domingo.
Quis ainda poder
esconder nossas fotos, quem sabe rasgá-las, fazê-las em pedaços e atirar cada fração
ao mar. Quis parar de achar seu sorriso o mais bonito e controlar o impulso de
te abraçar em cada lugar que te vejo, entrelaçando disfarçadamente os meus
dedos aos cachos do seu cabelo. Quis achar que hoje você desafina, mas descobri
que aquela nossa canção nunca saiu do tom.
Em momentos como esse quis
poder jogar, frustrado, o celular sobre a cama, por não encontrar seu nome na
agenda. Quis mesmo, um dia, tirar da memória os oito dígitos que me ligavam a
você e me tornavam ainda mais incapaz de te fazer distante.
Quis, e por mais fortes
que tenham sido as tentativas, me entreguei ao cansaço e levantei a bandeira branca
em sinal de rendição. Só então aprendi a nadar mais uma vez, ainda que frágil.
Peixe pequeno desbravando outro mar, menino novo dobrando a esquina rumo ao
próximo quarteirão.
Há três anos você faz
parte de mim.
Parece que o querer só fortalece a lembrança, não é verdade?
ResponderExcluirQuando a gente esquece que quer, é poque já se esqueceu...
Lindo texto!