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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Meu adeus


Hoje eu me despeço de você, assim mesmo sem bilhete, sem carta de adeus, sem uma olhadela para guardar na lembrança um último sorriso seu. Me despeço por saber que sua falta pesará tanto quanto sua presença hoje me esmaga o peito, assim fria, sem toque ou atenção. Me despeço por amor a mim, por amor ao que ainda resta de puro e sadio, por amor a todo sentimento que guardo e que tanto me dispus a te entregar.

Hoje me despeço dos nossos encontros inesperados no meio da rua, das nossas mensagens trocadas e das vezes que busquei seu número na agenda do telefone e não liguei. Tive medo de perder o pouco que tinha da atenção minguada que você me oferecia, mas que alimentava meus dias de esperança e sorrisos confusos. Mas hoje, ainda confuso, me despeço.

Hoje eu me despeço por estar cansado de pular “Apenas Mais Uma De Amor” sempre que me pegava ouvindo o disco do Lulu; por gostar tanto de você tendo a certeza de que o lugar que a ti reservei na minha vida, não te apetece o olhar e muito menos o coração. Me despeço e, enquanto sigo na tentativa de curar minha ressaca de você, tropeço na vontade de voltar. É que o amor não é como vodka, que faz efeito e depois passa.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Quando parti


Quando decidi partir, busquei em mim a coragem que nunca tive, as palavras que nunca disse e a amargura do amontoado de vezes que fiz do silêncio meu escudo. Foi preciso mais do que um abrir de olhos para perceber que o nosso amor havia se tornado mobília velha acumulada no canto do peito. Mudar exigiu de mim mais do que a força necessária para te carregar nos braços todas as vezes que você se entregava ao sono no sofá da sala.

Quando decidi partir, deixei para trás tudo que já não cabia na mala: nossas brigas, a indiferença de tantos dias corridos e o vazio que ecoava em mim e em você. O amor nos deixou órfãos, de olhos inchados e coração endurecido; rasgou os traçados incertos de cada plano e nos obrigou a um adeus prematuro, sem tempo e vontade para um recomeço, um reinventar de nós.

Quando decidi partir, resolvi não olhar para trás. Anulei o pensamento e estanquei a dor no peito com um suspiro. Talvez você tenha me observado seguir pela rua, quem sabe em prantos ou não, quem sabe com alívio no peito, ou ainda se fazendo de forte para depois desabar, assim como eu faria mais tarde no vazio do quarto.

Quando decidi partir, assinei comigo mesmo um contrato de felicidade, incerto, talvez, mas com a liberdade de tentar e tentar sem arrependimentos. Confesso que busquei a liberdade de uma vida a dois, mas entre sete bilhões de possibilidades, por hora resolvi flertar com o que há de mais instigante: a vida.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Apenas ruído


Demorei tempo demais para acreditar que o amor fosse, de fato, o sentimento maravilhoso do qual se alimentam os poetas. Talvez por isso tenha demorado a gostar de poesia, das suas rimas, métricas e sentidos que nem sempre me faziam sentir. Ainda não sei se acredito no poder transformador de um sentimento que vira e mexe machuca, pesa no peito e faz doer. Mas, de quando em quando me arrisco, acelero as batidas e esqueço que frear as expectativas nunca é demais.

Certa vez você me disse que o problema vive nas expectativas que criamos, mas nunca podou o nascimento dos planos e dos sonhos, daquela viagem no fim do ano, daquela visita de apresentação ao seu melhor amigo. Demorei até entrar de cabeça nesse futuro que nem ao menos havia nascido, mas que já nos enchia de alegria e orgulho. Nossos sonhos, nossos planos, nossa felicidade.

Mas aos poucos a mão do tempo, tão pequena, passou a escrever nossa história em linhas mal traçadas, ultrapassando espaços, ignorando sinais, se esforçando para interpretar nossa caligrafia já borrada de suor e lágrimas.

Demorei tempo demais para perceber que, talvez, eu não goste mesmo de poesia, do amor em rimas nascidos no peito de alguém. Demorei até entender que os versos do seu peito já não rimavam nós dois. Demorei a concluir que o que nascia aqui no peito já não tinha nome, apenas ruído. E quando um dia tudo se fez clarear, levei algum tempo para compreender que o ruído no peito era barulho da saudade que já incomodava o coração.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Gosto bom

Vira e mexe, tudo o que vivemos até então se perde nessa loucura que é o tempo e o seu caminhar. O recente se faz longínquo, porém, presente e ainda intenso. Na verdade, intensidade é a palavra que define nossa história que ainda é fresca, ainda é começo, ainda amadurece. Mas eu já sinto na boca o sabor da fruta mordida do amor cantado por Cazuza, e lambo os lábios, chupo os dedos, sugo você. Gosto bom esse de nós dois. Parece chocolate, parece doce de leite e qualquer outra experiência gastronômica nascida numa noite de terça. É gosto da pele, servida quente sob os lençóis da sua cama. Ou da minha.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Seria diferente com você?

Seria diferente com você? Seria diferente se ao invés de ter largado o computador em cima da mesa, naquele fim de semana sem graça, eu tivesse esperado você chegar de viagem, com a roupa amarrotada, sua cara de cansaço e uma garrafa de vinho nas mãos? Você diz que sim, eu já não sei. Difícil pensar no que não aconteceu, não é verdade? É difícil cogitar o ‘se’ que não veio a ser, mas que nunca deixou de ser pauta para os nossos desabafos numa conversa qualquer.

Diz pra mim como seria se você não tivesse feito charme naquela festa estranha e aceitado meu convite para um drink, uma dança e um beijo. Se não tivesse sumido por tempos incontáveis e retornado com a cara lavada, trazendo nas costas o peso de tantos romances falidos. Como seria se o tempo gasto por você em cada aventura mal sucedida tivesse sido usado naquilo que os nossos olhares já haviam anunciado meses atrás? Diz se valeu à pena esse amontoar de peças que nunca se encaixarão a você, que nunca te completarão e muito menos te farão feliz. Valeu?

E hoje, valeríamos à pena? Como seria voltar atrás para recuperar aquele frescor da descoberta um do outro? Sabe, era ali onde estava toda a graça e vontade de tentar, de segurar sua mão num canto escuro e me fazer seu, de te sentir mais de perto e constatar que poderíamos seguir em frente. Agora, que estamos calejados de tantos desencontros e morremos de medo de dar o primeiro passo, imagina então achar forças para caminhar uma estrada inteira de incertezas.

Talvez um dia, quem sabe, apostaremos um no outro como uma última tentativa; uma última chance de fazer dar certo, de fazer valer. Mas quem saberá? Deus? O destino? O caderno de astrologia? Eu ou você? O certo é que, se o nosso velho ‘se’ vier a ser, saberemos que o tempo é, de fato, cruel, crucial e extremamente necessário.