Você demorou tanto a chegar, que
o café que te esperava dentro da xícara sobre a mesa perdeu o calor. Já
passavam das 10 e o lanche era às 5. Foi você quem inventou essa história de
aos poucos fazer da gente um pouco mais britânicos mesmo sem gostar de chá;
mesmo sem saber inglês; mesmo achando a rainha apenas uma senhora fofa e nada
mais.
Esperei você enquanto brincava
com o pote de biscoitos e lambuzava suas torradas com margarina e geleia, do
jeito que você gosta. Sempre desconfiei do seu paladar exótico demais, mas
gostava de ouvir suas teorias sobre a mistura das cores e a influência que cada
tom tinha em seus dias. De fato, o amarelo da margarina e o vermelho vivo da
sua geleia de morango faziam diferença.
Você demorou e eu acabei dormindo
ali mesmo, sentado na cadeira, debruçado sobre a mesa. Acordei assustado depois
de um sonho confuso e você estava ali, na minha frente, rindo do meu rosto sujo
com as torradas lambuzadas que acabaram me servindo de travesseiro. Eu tentei
ficar bravo pelo seu atraso, enrugar a testa e levantar sem dizer palavra
alguma. Não queria explicações ou desculpas. Só queria você ali tomando café
comigo, ainda que frio, ou amargo; ainda que não fosse café.
Sei que amanhã não te esperarei
às 5.
Não preciso de hora marcada pra te amar.
Lindíssimo! (L)
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